quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

MEDO

Tenho medo de amanhecer
Entre olhos molhados
E lençóis vazios
Tenho medo de esticar as mãos
E encontrar somente
Travesseiros vadios
Tenho medo de tê-la em meus braços
E deixá-la fugir
Por entre os dedos
Tenho medo que entre palavras
Teus olhos descubram
Meus medos.

ORGASMO

É no teu corpo
Que eu me escorro
Percorro
Sedento do teu mel

Se gemes
Se tremes
Treme contigo
O meu céu

No céu da boca
Teu gosto
Teu rosto
Transtornado de orgasmo

E o gozo final
Tão humano
E ao mesmo tempo
Tamanha fúria animal

GOZOS FUTUROS

Gosto do teu gozo
Do grito rouco
Que sai sem perceber

E quanto mais aperto
É certo
Que mais vais me querer

Mordo teus seios
Tão cheios
Tão maduros

Enquanto guardo forças
Para gozos
Futuros

PARTIDA

Meus olhos ficaram
Nas marcas do teu passo
Tentei dizer adeus
Mas tudo o que consegui
Foi chorar tua partida
olhei ainda
um lenço branco
que se distanciava ao longe
e as lágrimas ingratas
misturaram-se nas ondas

MONOFOBIA

A solidão
Bebe meus temores
Na escuridão do quarto

A taça
Aguarda com a certeza
Da queda e despedaço

O passo
Trôpego, torto
Desfaz os sonhos
Para que eu refaça

A vida
Passa
Sem graça

IDOLATRIA

O quarto
É escuro e frio
E nele
Habitam fantasmas

Os anjos...

Os anjos se afastaram de mim
Desconcertados
Com tanta heresia

Beijei teus pés
Tuas mãos
Ajoelhei-me diante de ti
Confundi
Teu amor com idolatria

E os anjos

Os anjos magoados fugiram
Bem antes de ti
E foi então
Quando perdi a fé
Que eu te perdi

TIMBÓ

O rio chora
Ferido pelo timbó
Enquanto agonizam traíras
Jejus e tucunarés

TIMBÓ

O rio chora
Ferido pelo timbó
Enquanto agonizam traíras
Jejus e tucunarés

RENOVAÇÃO

O barquinho à deriva
Anuncia que o pescador
Dorme no colo da mãe d’água

O mormaço da tarde
Prenuncia chuva
A molhar os campos
E abençoar a colheita

A correnteza dos rios
Nos impele avante
Com todos os nossos problemas

A morena, de pés descalços
E o filho no ventre
Nos lembra que a natureza
Se renova todos os dias

ATO IMPULSIVO

Rasguei teu bilhete
E atirei nas correntezas
Iara olhou-me
Censurando o ato impulsivo

Quis chorar
Rios de saudades
Mas tua lembrança
Passou junto com a tempestade

E quando nuvens se abriram
Um raio de sol
Me bateu nos olhos
E refletiu no meu sorriso

ORAÇÃO

Venho a Teus pés, Senhor, nesta oração
Pedir a graça de Tua proteção

Para que o bem eu faça com fervor
Ensinando a fé no Teu amor

Para que o mal eu vença nesta vida
E que minh’alma seja redimida

Para que a todos trate com bondade
Que eu tenha paz, amor e caridade

Que o Teu manto nos cubra de ternura
Que minha mente se conserve pura

Para que a todos nós, sem exceção
Sejas a Luz que brilha à escuridão

Fazei de mim discípulo ardoroso
Velai por mim, ò Santo Pai piedoso

Para que eu faça tão somente o bem
Com tua graça e para sempre. Amém.

MADRUGADA

Quando os homens já não te quiserem
Quando todos eles te disserem
Que és mulher da rua
Lembra-te do poeta que um dia
Com lágrimas compôs uma poesia
Sonhando ver-te nua

Quando teu perfume for tão vago
Quando nenhum freguês tiver-te pago
E a noite te pegar desprevenida
Lembra deste homem que te amava
Que por ti o seu amor sacrificava
E assim seria capaz de dar a vida

Lembra do poeta, do homem... e chora
Chora como estou fazendo agora
Ao ver-te nesta vida tão mesquinha
E lembra que o dinheiro não é nada
Quando se está na vida desprezada
E destinada a andar sempre sozinha

Depois... dá-me tuas mãos cansadas
E vamos relembrar das madrugadas
Que éramos tão jovens e as fadas
Nos pareciam sempre tão reais...
Dá-me tua mão, deita em meus braços
E permaneceremos neste abraço
E não nos deixaremos nunca mais

CONSUMO

Vivi
Cada minuto perdido
Do tempo que não foi meu
Chorei
Mágoas que se perderam
Por entre dores e sonhos

Hoje
Sou fruto de mim mesmo
Acridoce e amoroso
Descendo à garganta
De quem ousa me consumir

DIÁRIO DE UMA EMPREGADA DOMÉSTICA (ACHEI NA INTERNET)

Hoje de manhã eu fui à feira. Antes de sair, meu patrão me pediu para eu trazer figo. Aí eu perguntei:

- Figo fruta ou bife de figo?

O homem ficou uma fera ! Gente fina, seu Adamastor, num ligo não. Ele tem sistema nervoso.Também, com um emprego chato daqueles, vou te contar! Ele é Fiscal de Receita. Deve ser um saco ficar conferindo receita de médico o dia inteiro.

Depois chegou o Adamastorzinho, o filho mais novo deles. Acabou de ganhar um carro todo equipado. Tem roda de maionese, farol de pilha, teto ensolarado e trio elétrico. Não sei porque trio elétrico num carro. Deve ser porque ele gosta de música baiana.

Ingrato esse Adamastorzinho. Fiz a comida preferida dele e ele ainda me chamou de burra. Eu disse, toda boba, quando ele chegou:

- Adamastorzinho, adivinha a comida que eu fiz pra você?
- Qual, Creusa?
- Começa com 'i'...
- 'I'???
- É, iiiiiii!!!
- IIIII..... num sei.
- Pensa: iiiiiiiii.
- Huuuummm, desisto.
- Istrogonofe!!!

Aproveitando a ausência dos patrões, Creusa pega o telefone e fofoca com a amiga Craudete:

- Cê num sabe da úrtima? Eu discubri que aqui nessa mansão que eu trabaio é tudo fachada!
- Como assim, Creusa? - pergunta a colega, confusa.
- Nada aqui é dos patrão! Tudo é imprestado! TUDO! Cê cridita numa coisa dessas? Óia só: a rôpa que o patrão usa é dum tal de Armani... a gravata é dum tal de Pierre Cardin... o carro é duma tal de Mercedes... nadica de nada é deles!
- Nooooossa, que pobreza!
- E, além de pobre, eles são muito ixibidos! Imagina que ôtro dia eu escutei o patrão no telefone falano que tinha um Picasso...
- E num tem?
- Que nada, fia... é piquinininho de dá até dó!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

MEU NOVO LIVRO: MÃE LUZIA (SÓ ALGUMAS ESTROFES




Se você não me conhece
Meu nome é Joseli Dias
Jornalista por acaso
Escrevedor de poesias
Eu vivo de contar causos
Para alegrar os meus dias

Quero aqui pedir licença
pra meu verso esquadrinhar
E deste jeito caboclo
Uma história lhe contar
Sobre a primeira parteira
Que surgiu em Macapá

Que me abençoe portanto
Minha Santa Margarida
A padroeira das grávidas
Que à luz nos traz a vida
E que às parteiras acode
Diante de sua lida

Que me abençoe também
O glorioso São Raimundo
Que protege com seu manto
As parteiras deste mundo
Que ele espalhe bênçãos
Em cada ventre fecundo

Quero pedir neste dia
Toda proteção do céu
Que Deus faça a poesia
Escorrer neste papel
E a história de Mãe Luzia
Se transformar em cordel

Mãe Luzia era uma negra
Que nasceu na escravidão
E sofreu quando menina
As dores da servidão
Cumprindo com sua sina
Até ganhar libertação

EXORCIZANDO



É na poesia
Que exorcizo meus demônios
Um a um
Transformo-os em poemas

A noite
Não é mais que um espelho onde o rosto
Do destino me fita
Impassível
Predizendo tormentos

E se as mãos
Tremem quando empunham a caneta
Não é o medo que se apresenta

É a dor
De não poder reescrever minha história

PASSO A PASSO

Pelas esquinas
Quando a noite chega
Que eu passo
A passo
Vou tecendo poemas

Estão neles a prostituta
Os motéis
Os cafetões de roupas coloridas
E perversidade estampada nas gravatas

Pelo cais cinzento
Quando minhas noites
São eternas
Que eu passo
A passo
Vou tecendo angústias
De olho no mar sereno
Que me levou para longe

Pelas esquinas to tempo
Quando todos os sonhos estão dormindo
Que eu passo
A passo
Vou olhando o mar
E mergulho sorrindo...

DESIGN

Uma lição de design
Diz o anúncio do carro
À porta da revendedora

Do alto da minha pobreza
Eu diria mais:
Diria que o carro
Vermelho-luz
É uma lição de sonho

Não queira eu
Almejar tanto
Afinal, há velocidade maior
Que a da palavra?

O carro
Pode ser detido pelo trânsito
Pelo guarda
Pelo poste.

A palavra
Sai da garganta
E atravessa o tempo
É o vermelho-luz
Intenso e infinito